Projeto 365 Fotos

Estou iniciando hoje, 01/01/2013, o Projeto 365 fotos.

Todos os dias publicarei uma foto e farei um breve comentário. Será a visão de uma amadora que ama fotografar e significar. Espero que gostem e acompanhem esse ano de magia e imagens, contribuindo com seu importante e bem-vindo comentário.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Pseudo-Sábios

Uma pessoa muito querida pediu para que eu comentasse o fato dos jovens desdenharem das ideias e angústias dos mais velhos. Achei esse tema bem interessante porque realmente ainda se vê uma desvalorização dos ideais do indivíduo que alcançou e/ou ultrapassou a casa dos cinquenta anos. Porém, antes de escrever sobre esse assunto, procurei olhar atentamente à minha volta e analisar o comportamento de forma geral e foi, sem surpresa, que enxerguei a intolerância em todos os níveis de idade. Como em todo processo de conhecimento, para entender a atualidade é necessário voltar no tempo e percorrer o caminho do desenvolvimento humano. Neste caso, é preciso olhar antes para a criança e depois para os mais velhos, traçando paralelo entre o passado e os dias atuais. Houve época em que as crianças eram excluídas das conversas adultas. Quando se aproximavam, logo alguém chamava à atenção: "vai brincar menino(a), que a conversa não é para criança!"
Os filhos beijavam a mão dos pais em sinal de respeito, de hierarquia e os avós eram vistos como fontes de sabedoria. Lembro-me de como ficávamos preocupados quando fazíamos alguma traquinagem. O primeiro pensamento era o de punição, mas nos preocupávamos com a decepção que causaríamos aos nossos pais. Rigidez e despotismos à parte, havia uma linha de conduta, um respeito aos limites. Os conselhos dos mais velhos eram sempre bem-vindos, eram respeitados porque assim nos ensinavam.
Criança não desmentia os adultos e não lhes respondia mal.
Criança entendia num olhar o que hoje os pais não conseguem falando. E contudo as crianças eram felizes. Subiam em árvore, brincavam na chuva, jogavam bola na rua... levavam palmadas, mas não ficavam traumatizadas. O colo dos avós era um aconchego. Ninguém cozinhava melhor que a vovó e era o vovô quem contava as melhores histórias. Na casa deles o quintal era um mundo mágico, encantado.
Os adolescentes eram mais responsáveis, haviam exceções, mas a maioria sabia valorizar o dinheiro, a roupa, o calçado. O jovem desde cedo aprendia a ganhar o próprio sustento. Quando adultos, não dispensavam os conselhos dos mais experientes e tinham na família um farol a guiar seus passos e lhes dar segurança.
Mas era inevitável que o progresso chegasse com suas máquinas, sua produção desenfreada, suas cobranças e suas neuroses.
A família, então, começa a perseguir o conforto, mas perde em qualidade e seus componentes o referencial. Pais nervosos, ausentes,
mais agressivos...
Hoje as crianças já não podem mais levar palmadas, contudo, não conseguem ser criança também. A TV, o vídeo-game, o computador ocuparam o tempo que antes era reservado ao quintal dos avós, ao jogo com a turma. Agora os brinquedos parecem carros e bebês de verdade, as crianças não exercitam mais sua criatividade criando os próprios brinquedos. Vivem sozinhos, arredios em seus quarto e há crianças que não conhecem pique-esconde, amarelinha e brincadeiras de roda... não sabe rodar pião nem jogar bolinha de gude.
Quando a avó cantarola uma canção de sua infância, filhos e netos riem achando a musiquinha muito "maluca". Se fala de suas atividades infantis, normalmente escuta: "ô mãe (pai), isso foi no seu tempo..." e a criança ou o jovem que escuta, acredita.
Acredita que o passado é "démodé", inexpressivo e que a verdade é atual, moderna. Não é uma questão de saudosismo, mas de bom senso: uma criança que vê os pais ridicularizarem o passado, falar com desdém dos mais velhos, chamando-os de caducos, esclerosados etc., terão uma noção deturpada dos valores éticos e morais.
Da mesma forma, os adolescentes que hoje dependem integralmente (com raras exceções), de seus pais, que não precisam se esforçar para obter ganhos, que desconhecem os limites e se vêem obrigados a cumprir tarefas, não irão respeitar autoridade, treinados que são para serem ditadores.
É compreensível - não disse aceitável - que esses jovens não consigam tolerar a experiência dos mais velhos. Não conseguem aceitar por viverem, sem controle, num mundo altamente tecnológico, que descredenciou todo aquele que esteja fora dos padrões capitalistas, apagando dos arquivos da mente o fato de que os indivíduos com mais de cinquenta anos trazem consigo uma valiosa bagagem de idéias e realizações, acrescido do peso de seus esforços, lutas e experiências.
Acreditam que sabem tudo por cursarem uma universidade do século XXI, estar ligados todo o tempo na Internet e dominarem as tecnologias. Pseudo-sábios perdem a grande oportunidade de ouvir a voz de quem viveu mais, de expandir seus conhecimentos.
Não sou pessimista e tampouco desejo desvalorizar a nova geração. Ao contrário, acredito nos jovens e no seu poder de conquista, além do que, somos nós os responsáveis por esse tortuoso caminho da rejeição. Fala-se muito em criar filhos para o mundo esquecendo que também
estamos nessa jornada.
Abaixamos, muitas vezes, nossa cabeça e nossa dignidade diante da inexperiência e permitimos a ridicularização de nossos conhecimentos. Somos responsáveis sim por esse desencontro, quando premidos pelo autoritarismo de nossos pais, educamos nossos filhos na liberdade excessiva sem dar a eles base para educarem nossos netos ou quando os levamos a agir com ineficiência com seus filhos a partir da nossa própria intolerância para com eles.
Dessa forma, não basta repensar a relação pais e filhos, é importante que cada um reveja sua posição diante da vida, procurando valorizar suas próprias qualidades, acreditando nelas e agindo de conformidade com elas. Ninguém, jovem ou adulto, precisa seguir o que o outro diz ou pensa, mas é importante que tenhamos respeito por quem já vivenciou muitas das coisas pelas quais teremos que passar. É o mínimo que se espera de uma sociedade que quer ser chamada de civilizada.

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